sábado, 8 de junho de 2013

Os 60 anos da jornada juventina pela Europa

Não pode passar em branco a lembrança da turnê do Juventus pelos gramados do Velho Continente, em meados de 1953. O Moleque Travesso atravessou o Atlântico para realizar uma série de amistosos com equipes estrangeiras. Esta façanha está completando exatos 60 anos por essa época.

"A visita do Juventus servirá ao propósito de estreitar os laços esportivos entre os futebolistas e torcedores europeus e os sul-americanos"
Modesto Mastrorosa, presidente do C.A. Juventus
O Juventus zarpou do porto de Santos a bordo do navio Anna C no dia 2 de maio, pouco depois de ter conquistado o Torneio Interestadual Jânio Quadros, no qual enfrentou Ypiranga, Portuguesa Santista e Bonsucesso, aproveitando o período de inatividade antes do Campeonato Paulista. O elenco desembarcou primeiro nas Ilhas Canárias, onde o navio fez uma escala.

Delegação juventina a bordo do transatlântico Anna C

Em Las Palmas, os juventinos aproveitaram a parada para fazer um jogo em ritmo de treino contra o clube local no dia 12 de maio e venceu por 2 a 0. Foi o primeiro clube brasileiro a jogar naquela localidade. Depois, partiu para a Itália, terra dos ancestrais juventinos e do treinador grená na ocasião, Rossini.

O primeiro adversário na "bota" foi a Sampdoria. O time genovês tinha como arqueiro Giuseppe Moro, goleiro titular da Azurra, e foi derrotado pelos mooquenses por 2 a 1. A Samp marcou primeiro, com Gritti. Zezinho, aos 14, e Edelcio aos 21, viraram o placar. Segundo o livro Glórias de um Moleque Travesso, essa foi a primeira vitória de uma equipe brasileira em solo italiano na história do esporte.

Depois deste grande triunfo, estava previsto que os grenás atuassem contra o Olympique de Marselha. Porém, o adversário cancelou o jogo e o Juventus acabou rumando norte, para a Suécia. Lá, jogou com o Norrköping, campeão nacional, e venceu por 2 a 1 de virada, com gols de Basão e Victor. O adversário seguinte foi o Malmö, vice-campeão sueco, que impôs a primeira derrota juventina no solo europeu: 1 a 0.

Da Escandinávia à Alemanha. Em Colônia, enfrentaram o Preußen Dellbrück, um clube que já não existe mais e deu origem ao atual Viktoria Köln. O alvinegro prussiano perdeu por 3 a 2 do Moleque Travesso. Depois de cruzar o continente, os juventinos voltaram à Itália.

Em Nápoles, o Juventus encarou o time que leva o nome da cidade. A squadra que teria como maior ídolo no futuro o argentino Maradona, devolveu o placar dos alemães: 3 a 2 para eles.

Jepson fez o primeiro aos 4. Edelcio empatou aos 7, Casteli desempatou para os italianos aos 21. No segundo tempo, Krieziu ampliou a vantagem napolitana. O segundo gol do Juventus foi contra, anotado por Comaschi.

Os juventinos foram, então, à Roma. No duelo entre grenás contra o time da cidade, no Estádio Olímpico, ocorreu o maior feito da excursão: 2 a 1 para os brasileiros.

Os romanos começaram melhor e abriram o placar aos 16, com Renosto, que aproveitou passe do ponta-direita uruguaio Ghiggia (sim, aquele Ghiggia). Os juventinos se impuseram no segundo tempo e empataram com Zezinho aos 6. Edelcio, aos 19, chutou forte e de longe, para virar o jogo.

Da Itália para a Suíça, para mais uma série de duelos. No primeiro, o Juventus perdeu do Basel por 4 a 3. A partida aconteceu no dia seguinte à vitória contra a Roma e os jogadores chegaram apenas duas horas antes de entrar em campo contra o Basel. Ainda assim, chegaram a estar vencendo por 3 a 0, dois gols de Durval e um de Bazão, mas sucumbiram ao cansaço e ao campo pesado em razão da chuva. A equipe suíça, que contava com seis jogadores da seleção do país, virou o jogo.

O Moleque Travesso, após três dias de descanso, ganhou do Servette por 1 a 0, gol de Castro. Depois, passagem pela Áustria, onde o Austria Wien (Áustria Viena) carimbou 2 a 0 no passaporte do Moleque Travesso.

De volta à Basiléia, novo encontro com o Basel e, desta vez, um empate em 1 a 1, com gol Juventino de Ari. Ainda na terra dos alpes e do chocolate, vitória sobre o Lausanne por 2 gols a 0, anotados por Castro e Bazão.

Mais um austríaco entrou no caminho do Juventus: Sturm Graz, que perdeu por 3 a 0. Finalmente, a última parada da caravana: Iugoslávia. Dois embates contra os rivais de Belgrado. Um empate sem gols contra o Estrela Vermelha e, para fechar a viagem, uma vitória sobre o Partizan por 2 a 1 no dia 28 de junho, o último compromisso oficial em solo europeu.

A comitiva juventina esperava ainda fazer mais amistosos. Porém, diante da não confirmação pelos adversários, optou por retornar à Itália de trem e embarcar novamente no Anna C para voltar ao Brasil. O navio fez uma parada em Lisboa e pensou-se em disputar uma partida com alguma equipe da cidade, o que acabou não acontecendo.

"Os jogadores estão muito cansados, uma vez que atuaram praticamente quase todos os dias e tiveram que fazer longas viagens entre uma partida e outra. Tivemos tantos oferecimentos que não pudemos atendê-los. Os nossos jogadores estão muito bem impressionados com o público da Suíça, Suécia, Áustria, Iugoslávia e Itália. Na parte meridional da Itália, o público é algo temperamental."
Modesto Mastrorosa, presidente do C. A. Juventus

Em Roma, Viena e Belgrado, o público nas arquibancadas chegou a passar 70 mil pessoas.

Foram dois meses cruzando o continente dos colonizadores, com 9 vitórias em 15 jogos, e mais uma longa jornada de volta ao Brasil.  A comitiva passou rapidamente pelo Rio de Janeiro, onde o navio fez uma escala. O Anna C baixou âncoras na noite de 16 de julho em Santos, onde os juventinos foram recebidos festivamente pela Portuguesa Santista.

Os juventinos foram saudados na manhã do dia 17 de julho por um cortejo que teve início na Avenida Independência, passou pela Avenida do Estado, Rua da Mooca, Rua do Oratório, Rua Fernando Falcão, novamente pela Rua da Mooca, Rua dos Capitães Mores, Praça dos Industriários (IAPI), Rua Catarina Braida, Rua Taquari e Rua Javari. À noite, um baile em homenagem à equipe foi realizado no salão do estádio Conde Rodolfo Crespi, para o qual o clube convidou toda a comunidade futebolística paulista, além dos membros da indústria e comércio do bairro da Mooca.

Delegação:
Goleiros: Valter, Jorge e Osvaldo Petrone
Zagueiros: Juvenal Amarijo, Salvador Cardelli, Arnaldo Thomaz e Diogo Cespedes
Médios: Victor Ratautas ("Lituano"), Osvaldo de Carvalho, Nicolau Pauliuk, Valdemiro de Lillo e Bonfiglio Marangon
Avantes: Nestor André Paz, Isabelino Fonseca, Paulo Aderbal Lari ("Bazão"), José Funicelli, Durval C. Nunes, Edelcio Federici, Orlando G. Castro e José Arias
Treinador: Guiseppe Rossini
Massagista: Bianchi
Roupeiro: Romeu
Chefes da delegação: Modesto Mastrorosa e Avelino Menegatti
Integrava a comitiva, ainda, um árbitro, Caetano Bovino. Na época, era comum as equipes visitantes em excursões levarem o árbitro. Os bandeirinhas eram fornecidos pelos times mandantes.

"Quando deixaram nossa Capital, além da disposição férrea de representar condignamente o futebol brasileiro, os defensores da agremiação da Mooca levavam pouquíssimas esperanças do público em geral, de que conseguissem bons resultados nos vários encontros que iriam realizar. No entanto, tiveram os juventinos brilhante atuação, constituindo-se num dos melhores propagandistas do popular esporte do nosso País no estrangeiro."O Estado de S. Paulo, 07.07.1953

Em honra eterna ao triunfo, uma placa de bronze foi afixada no pátio interno do estádio da Rua Javari, próxima à porta do vestiário:



Em resumo, os resultados e as datas dos jogos da campanha europeia do Juventus:




fontes de pesquisa:
Glórias de um Moleque Travesso, de Angelo E. Agarelli, Fernando R. Galuppo e Vicente Romano Netto, editora BB, 2013.
jornal O Estado de S. Paulo, edições de maio, junho e julho de 1953.

ATUALIZAÇÃO: em 11/01/2017 retificamos um erro no gráfico com os resultados das partidas.