Ser juventino

Você corinthiano, flamenguista, são-paulino, palmeirense, vascaíno, colorado, gremista, botafoguense, tricolores cariocas e baianos, santista. Você, que vê seu time entre as 20 maiores torcidas do Brasil, faça um exercício de abstração.

Pense que você não torce junto com mais 3 milhões de pessoas pelas mesmas cores, pelo mesmo amor. Esqueça os títulos fartos, as vitórias inesquecíveis e os craques indiscutíveis que passaram pelo seu time.

Vá até seu estádio preferido num dia sem jogo e sente-se nas arquibancadas. Feche os olhos. Tenha consigo a companhia das pombas, dos faxineiros da geral e da sua paixão pelo futebol. Imagine que junto de você, existem outras 500 pessoas no Brasil inteiro. No mundo inteiro.

Pense que você torce para um time cuja torcida tem esse tamanho. Um time que tem títulos esparsos e glórias advindas de vitórias sobre gigantes, um solitário gol de bicicleta. Um clube quase de bairro, que todos dizem amar, mas que poucos realmente sabem onde é o estádio.

Abstraia.

Conseguiu? O que você sentiu?

Pena? Compaixão? Achou graça? Se sentiu ridículo? Então volte para o seu gigante. Ele estará lá, de braços abertos a lhe esperar.

Sentiu prazer? Achou uma sensação esquistamente agradável? Sentiu-se único, diferente? Pronto. Você descobriu o que é torcer para um time pequeno. Agora, você de fato sabe o que é amar o futebol. Amor que é amor sobrevive a tristezas, a vitórias tão raras quanto intensas, a lágrimas carregadas de afeto.

Ontem, domingo, o Clube Atlético Juventus viveu uma de suas manhãs mais gloriosas, mais inesquecíveis, mais inacreditáveis.

Entrei na Rua Javari, o mítico estádio paulistano. Aquele que parece ter parado no tempo do futebol romântico, da bola laranja e das chuteiras pesadas. Dos juízes de preto e das traves quadradas. Dos torcedores de chapéu e das mulheres torcendo seus lencinhos, proibidas de gritar.

Estádio do Nonno, da Nonna. Estádio do time com camisa da Fiorentina e nome da Juventus. Do time do Cotonifício Rodolfo Crespi. Estádio com tribunas pintadas de grená, sem iluminação. Estádio no coração da Mooca, talvez o bairro mais querido de São Paulo, bairro operário, bairro italiano, bairro multinacional, multicultural.

E agora, campeão.

A inacreditável vitória sobre um valoroso Linense deu o título da Copa FPF (cujo nome oficial homenageia os Heróis da Revolução de 32, em esplêndida homenagem) ao time grená, que ganhou vaga para disputar a Copa do Brasil em 2008.

Não ganharemos, provavelmente.

Mas somos tão felizes.

Abstraia. Feche os olhos.

Pelo menos, lhe trará paz.

Por Luiz Fernando Bindi