Trinta anos atrás, um chute de Paulo Martins percorreu a distância penal de onze metros, balançou a rede do arqueiro Adeildo do CSA, fez a festa explodir no Parque São Jorge e, dali, contagiar todo o bairro da Mooca.
Foi no dia 3 de maio de 1983, uma terça-feira, que o Juventus conseguiu sua maior conquista futebolística. Um título nacional, num torneio organizado pela CBF, de forma incontestável, sem asterisco nem nota de rodapé.
O Campeonato Brasileiro daquele tempo tinha um regulamento bem diferente. Os times se organizavam em três divisões, as Taças de Ouro, de Prata e de Bronze, de acordo com o desempenho no ano anterior e também nos campeonatos estaduais. O Juventus fez bem a lição-de-casa em 1982 e, por isso, se habilitou a disputar o torneio na primeira divisão, ou seja, a Taça de Ouro, como representante do Estado de São Paulo.
A Taça de Ouro começava a ser disputada com 40 clubes, divididos em 8 grupos com 5 times em cada. Na primeira fase, os times jogavam entre si nos grupos, em turno e returno. O último colocado de cada grupo era eliminado. O quarto colocado de cada grupo ia para uma repescagem e, destas equipes, as quatro primeiras sobreviveriam na competição. E as quatro últimas se despediam do campeonato.
Todos estes times desclassificados na primeira fase e na repescagem não ficavam abandonados esperando a temporada seguinte. Eles ingressavam na Taça de Prata, que já estava em andamento em uma fase classificatória. Dessa forma, o torneio, hoje equivalente à Série B, inchava, tendo a participação de 48 equipes.
O Juventus caiu na repescagem da Taça de Ouro com 1 vitória, 3 empates e 4 derrotas. Anotou 5 gols e sofreu 10. Na Taça de Prata, entrou em pleno mata-mata, jogos de ida e volta. Esta foi a campanha do Moleque Travesso:
Terceira Fase
13/03/1983 - Juventus 3 x 1 Itumbiara/GO
20/03/1983 - Itumbiara/GO 1 x 1 Juventus
Quarta Fase
27/03/1983 - Galícia/BA 2 x 3 Juventus
02/04/1983 - Juventus 2 x 1 Galícia/BA
Quinta Fase (semifinal)
10/04/1983 - Joinville/SC 0 x 0 Juventus
17/04/1983 - Juventus 2 x 1 Joinville/SC
Chegaram à grande final Juventus e CSA de Alagoas. O regulamento previa, novamente, a disputa em partidas de ida e volta. A primeira em Maceió e a segunda em São Paulo. Em caso de igualdade, uma partida de desempate deveria ser disputada no mesmo local do segundo jogo.
Final - jogo 1
24/04/1983 - CSA/AL 3 x 1 Juventus
Local: Estádio Rei Pelé, Maceió/AL
Público: 14.765 Renda: Cr$ 5.707.400,00
Árbitro: Carlos Sérgio Rosa Martins
Gols: Rômel, 41’ do 1º tempo, Zé Carlos 18’, Josenílton 31’e Ilo 41’ do 2º tempo
Cartão Amarelo: Rômel, Café, Dequinha, Josenílton e Nelsinho
CSA: Adeildo; Humberto, Café, Dequinha e Zezinho; Ademir, Rômel (Josenílton, 23’ do 2º tempo) e Jorge Siri; Américo, Zé Carlos (Veiga, 35’ do 2º tempo) e Jacozinho. Técnico: China
Juventus: Carlos; Nelson, Nelsinho, Nenê e Bizi; Paulo Martins, Gatãozinho (Gerson Andreotti, 20’ do 2º tempo) e César; Sidnei, Bira (Ilo, 20’ do 2º tempo) e Trajano. Técnico: Candinho
Final - jogo 2
01/05/1983 - Juventus 3 x 0 CSA/AL
Local: Estádio Alfredo Schürig (Parque São Jorge), São Paulo/SP
Público: 2.467 Renda Cr$ 1.283.150,00
Árbitro: Arnaldo César Coelho
Gols: Gatãozinho, 7’ do 1º tempo, Bira, 33’ e Trajano 37’ do 2º tempo
Cartão amarelo: Deodoro e Paulo Martins
Juventus: Carlos; Nelson, Deodoro, Nelsinho e Cardoso (Nenê, 32’ do 1º tempo); Paulo Martins, César e Gatãozinho; Sidnei, Ilo (Bira, 32’ do 2º tempo) e Trajano. Técnico: Candinho
CSA: Adeíldo; Humberto, Café, Dequinha e Zezinho; Ademir, Jorginho e Rômel (Josenílton, 30’ do 2º tempo); Américo, Zé Carlos e Jacozinho. Técnico: China
Se existisse na época o tal do placar agregado ou a regra do gol fora de casa, o Juventus teria faturado o caneco já no segundo jogo, disputado no estádio do Corinthians num domingo à noite. Mas a regra do campeonato desprezava o saldo de gols, interessando apenas a quantidade de vitórias. Seria necessário mais um jogo para que um dos dois competidores fizesse 2 a 1 na série decisiva.
E assim, naquela terça-feira, 3 de maio de 1983, uma noite fria, novamente na Fazendinha, o Juventus enfrentaria novamente os alagoanos. Um jogo nervoso, com excessivo número de faltas e jogadas violentas. A tensão passava alambrado afora, com ânimos exaltados nas arquibancadas entre torcedores e membros da delegação do CSA e juventinos da recém organizada Torcida Ju Jovem.
O experiente lateral direito Nelsinho Batista penetrou na área e foi derrubado pelo marcador. O lance é, até hoje, controverso. A equipe azulina e o seu jovem dirigente Fernando Collor (aquele que, depois, seria Presidente da República) protestaram contra a marcação da penalidade máxima. A revista "Placar" afirmou que Nelsinho tropeçou no zagueiro. Seja como for, Paulo Martins pegou a bola Topper e a pôs na marca da cal. E marcou! O gol do primeiro título nacional do Juventus!
Lance do pênalti: Nelsinho Batista é derrubado pelo zagueiro do CSA
Final - jogo desempate
03/05/1983 - Juventus 1 x 0 CSA
Local: Estádio Alfredo Schürig (Parque São Jorge), São Paulo/SP
Público: 3.205 Renda Cr$ 1.680.200,00
Árbitro: Luiz Carlos Félix
Gol: Paulo Martins (Pênalti), 26’ do 2º tempo
Cartão amarelo: Café, Dequinha, Ademir, Paulo Martins, César e Jorginho
Juventus: Carlos; Nelson, Deodoro, Nelsinho e Bizi; Paulo Martins, César e Gatãozinho; Sidnei, Ilo (Bira, 23’ do 2º tempo) e Cândido (Mário, 38’ do 2º tempo). Técnico: Candinho
CSA: Adeíldo; Humberto, Café, Dequinha e Cícero (Veiga, 27’ do 1º tempo); Ademir, Jorginho e Rômel; Américo, Josenílton e Jacozinho. Técnico: China
Um torcedor de "time grande" pode enxergar este momento com desprezo e desdém, afinal de contas, para um "grande" seria muita humilhação disputar um torneio de segundo escalão. E o troféu de campeão, evidentemente, não seria mais do que obrigação.
Mas o Juventus não é um "time grande". E essa é, justamente, a sua grandeza. A grandeza de lutar contra eles e, por vezes, os derrotar. A grandeza de lutar com suas forças pelo seu lugar, superando todas as dificuldades.
MITOS, CURIOSIDADES E CONFUSÕES
Algumas informações desencontradas foram se acumulando ao longo dos 30 anos da façanha juventina.
Um deles é o de referenciar o time posado da foto abaixo com a equipe campeã da Taça de Prata. É, mais ou menos. A foto não é a do time que jogou a final. Foi tirada no segundo semestre de 1983, quando, por pouco tempo, uma estrela prateada encimou o escudo do Juventus em homenagem à conquista.
O time que jogou a grande final é este:
Aqui podemos falar de outra confusão. É comum identificarmos a tradicional camisa da Adidas com gola V grená como a camisa do título da Taça de Prata. As fotos e a filmagem da partida mostram que no primeiro tempo os Mooquenses atuaram com uma camisa de gola V branca. Somente no segundo tempo é que o lendário uniforme com gola grená foi utilizado.
Outra confusão diz respeito à data do jogo. Muitas fontes afirmam que a finalíssima foi disputada no dia 4 de maio de 1983. Mas, na verdade, o título veio no dia 3. É que, como o embate se deu à noite, a maioria dos jornais só publicou o resultado no dia 5, o que levou muita gente a concluir que o jogo teria sido no dia 4.
Um dos poucos jornais a fechar a edição do dia 4 já noticiando o triunfo juventino foi "A Gazeta Esportiva". O exemplar abaixo, verdadeira relíquia, é guardado cuidadosamente pelo amigo Renato Corona:
A ficha publicada na revista "Placar" também não deixa mentir quanto a data do jogo:
Por fim, vale a leitura de um relato de quem estava lá e tem a memória viva para contar está no blog Bola pro Mato. Sergio Agarelli narra a partida decisiva sob sua perspectiva.
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