domingo, 26 de janeiro de 2014

Sturaro, um herói inesperado

Campeonato Paulista, 1947. No Pacaembu, jogam Corinthians e Juventus.

A certa altura do primeiro tempo, um susto: o goleiro juventino, Muniz, sai de campo com duas costelas quebradas. Sturaro, um jogador desconhecido do time de aspirantes do Moleque Travesso, titular naquela tarde, é chamado para substituir, improvisadamente, o goleiro.

Para surpresa de todos, o ponta-direita fecha o gol, salva o Juventus da derrota e consegue uma vitória moral para o clube da Mooca.

Somente depois da partida os corintianos descobriram que Sturaro já havia jogado como goleiro, no início da carreira.

Na foto acima, Sturaro foi retratado ao lado de Luis e Lorena.

Segue, abaixo, reprodução na íntegra da crônica esportiva publicada na página 6 do jornal Mundo Esportivo, do dia 3 de outubro de 1947.

O CARTAZ DA SEMANA

Ninguém conhecia Sturaro. Sabia-se, apenas, que era um jogador do conjunto de aspirantes do Juventus. Algumas vezes, jogava no esquadrão titular, como ponteiro direito. Assim, não se ouvia falar em Sturaro, porquanto, não possuía as qualidades de um Lorena, o elemento mais evidente do grêmio grená.

Domingo último, o Juventus jogava com o Corinthians. Em determinado instante, Muniz, ao fazer uma intervenção perigosa, contunde-se. Os jogadores juventinos correm para socorrer o arqueiro. Eis que, repentinamente, surge um deles pronto para vestir a camiseta de Muniz. Era o ponteiro direito que retrocedera para a área. Sturaro, portanto, que à última hora, substituíra Russinho.

Poucos instantes depois, aquele jovem fazia já uma defesa de alta classe. Os expectadores ficaram espantados. Ele tinha queda para o arco. Ninguém acreditava num milagre do Juventus, que o fizesse garantir o empate. Sturaro enfrentava o ataque corintiano com absoluta serenidade. Não se afobava com as ameaças. Veio o segundo tempo e, com ele, a consagração de Sturaro. O rapaz fez o "diabo". Defendeu tudo. Alguns chutes considerados indefensáveis, eram por ele aparados com segurança. As atenções do público, então, se convergiram para o goleiro improvisado. O mais interessante de tudo, era o desespero de Servílio, que lutando com todas as forças para passar à frente de Lula, na artilharia do campeonato, via todos os seus arremessos morrerem mansamente nas mãos de Sturaro. Terminada a contenda, Sturaro é felicitado pelos próprios corintianos. Seus companheiros carregam-no em triunfo até o vestiário. Ele fora o herói de uma jornada. A garantia primordial daquele estupendo empate.

Após o prélio, só se falava em Sturaro. Até hoje seu nome é comentado. Os corintianos sentiram-se magoados com Sturaro. No Juventus, cantam hosanas à magnitude de sua exibição.

Na página 15 do mesmo jornal, o colunista "Mosqueteiro" comenta:

Parece incrível. Todo mundo sabe que o Juventus é nossa asa negra. Os jogadores não se cansam de afirmar que contra os grenás é preciso muito cuidado. (...) Francamente, essa gente dá azar pro Corinthians. E quanto mais se pensa nisso, parece que é mais difícil superar aquele quadro que é o ultimo, sim, o último colocado. Se não é agora, já foi, porque na semana passada ele estava com a lanterninha. Que coisa!


Sturaro ficou conhecido e seu nome ficou sempre ligado a essa partida. Depois de atuar no Juventus, atuou na A.A. Rio-Pardense, no Radium, na Internacional de Bebedouro e no São Caetano E.C..

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