segunda-feira, 11 de abril de 2011

Onde está a imprensa?



Mil e quinhentas pessoas deixaram seus afazeres na manhã deste domingo para se dirigirem ao estádio da Rua Javari e torcer pelo milagre da classificação do Juventus. O milagre não veio. Mas outra vez foi provada a atração e o fascínio que o clube grená desperta, não só em sua torcida mas também nos forasteiros que vêm de fora acompanhar um jogo no pequeno campo da Mooca.

Infelizmente o bom público que tomou as arquibancadas e os fundos dos gols parece não ser suficiente para a grande imprensa, que pouco falou sobre a situação do clube nos noticiários. É certo que o Juventus teve destaque no Globo Esporte, apresentado pelo fanfarrão Tiago Leifert, mas isto se deveu ao primeiro de abril, data na qual, por pura galhofa (e descompromisso com o jornalismo e os telespectadores, aliás) o jornal deixou de lado as notícias dos clubes grandes para falar de assuntos, digamos, alternativos. Até equipe de pólo sobre caiaque teve vez.

Claro que o Juventus, por estar num período sabático, longe dos holofotes, do dinheiro e dos grandes personagens futebolísticos, não desperta, a princípio, um interesse. E sua torcida diminuta não é suficiente para despertar uma atenção igual à de um time grande. Mas desde o ano passado motivos não faltaram para que, no mínimo, a imprensa paulistana voltasse um pouquinho os olhos para os lados da Rua dos Trilhos, Paes de Barros e arredores.

O Juventus viveu um período turbulento. Quase fez uma parceria com o Meu Time de Futebol, uma associação de internautas que objetiva comprar um clube e administrá-lo, mas foi demovido da ideia por pressão dos sócios e dos torcedores. Em seguida, veio o Grupo Planinvesti, com dinheiro, investimentos, marketing, com o intuito de fazer o time voar e voltar à elite do futebol em pouco tempo. Mas a relação do clube com a parceira foi de altos e baixos. Momentos tensos e quase vias de fato, quando o clube namorou com a zona de rebaixamento e os jogadores não possuíam um mínimo controle emocional durante as partidas.

O juventino sabe disso, pois acompanha as notícias sobre o clube e, principalmente, vai ao estádio.

Mas o resto das pessoas não faz a mínima noção de que tudo isso aconteceu. Porque a nossa imprensa local não mostrou - e aqui falo especialmente dos jornalões da cidade, a Folha, o Estado, o Jornal da Tarde, o Diário de São Paulo etc. Em um ou outro lugar, o Juventus sempre aparece como parte do folclore da cidade, algo curioso, exótico, interessante, diferente, o lugar onde Pelé fez o seu maior gol.

Mas nunca como um time de futebol. E é isso que ele é, pelo menos que eu saiba.

O Estadão publicou há poucas semanas página inteira falando do martírio do América de São José do Rio Preto, que atravessa gravíssima crise e quase foi rebaixado à Série A2 do Paulista. No último domingo, mais uma página inteira, desta vez sobre o Bonsucesso, time do subúrbio carioca, da segunda divisão fluminense, que luta para que um título estadual de 1919 seja reconhecido oficialmente.

A Folha nenhuma linha escreveu sobre o Moleque Travesso no mesmo período.

Os jornais paulistanos cedem uma porção de espaço para pessoas supostamente entendidas discorrerem verborragicamente sobre futebol. E outras tantas para dar os placares do campeonato inglês, escocês, austríaco. E mais outras para os resultados do turfe. Abrem espaço para falar de times de fora, mas dificilmente cedem uma linha para um clube da capital.

Silenciam sobre um clube de 86 anos de vida, 71 campeonatos paulistas de primeira divisão, e que é da própria cidade em que tais jornais são editados. O único periódico a acompanhar o noticiário do Juventus com afinco é a Folha da Vila Prudente, que circula somente às sextas-feiras e para público restrito aos bairros das redondezas do clube.

Mas hoje, segunda-feira, um jornal se redimiu. O caderno de Esportes de O Estado de S. Paulo trouxe reportagem e foto do jogo contra o Taboão, traçou um retrospecto da campanha tortuosa do clube e ainda lembrou que as eleições presidenciais se aproximam.

Certamente se o Juventus tivesse caído para a Série B, a quarta divisão estadual, e fosse, como até se cogitou no pior momento da crise, fechado o departamento de futebol profissional, todos os jornais noticiariam. A imprensa estaria lá, como urubu, para publicar a sua desgraça. Desgraça que ela mesma ajuda a provocar, por afastar o interesse do público.

Então, parabéns ao Estadão. Mostrou que o Juventus está ferido, mas que não está morto.

2 comentários:

  1. Brilhante texto. Difícil não reconher que os argumentos são perfeitos. O silêncio acerca do Juve na imprensa de sua própria cidade foi algo que sempre me intrigou. Pra quem não mora na Mooca e nos arredores (e sim! há torcedores ou simpatizantes do Moleque fora da Mooca! indo ao estádio e conversando com algumas pessoas, é possível perceber que, sim, existem e não são uma minoria não pequena... são minoria, mas uma grande minoria!).

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  2. Bem colocado. Ótimo texto.
    Mas esse vídeo da torcida aí é paga pau de argentino... Pô, falta a identidade de SP aí também...

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