sexta-feira, 20 de abril de 2012

O aniversário dele


Não adianta procurar. Você não vai encontrá-lo jogando na tela dos principais canais de televisão. Não vai poder escolhê-lo no seu videogame preferido. Nenhum jogador ídolo da garotada joga lá. Não tem patrocinador milionário na camisa. Não dá para comprar ingressos para seus jogos pela internet. Não tem noticiário de rádio sobre ele. No jornal, uma notinha de vez em quando. Notinha falando para ir ao estádio da Rua Javari comer um cannoli, grudar no alambrado e coisa e tal. Tem gente que não gosta dessas notinhas, acha que são bobagens para atrair mais turistas do que torcedores. Só que indiretamente o assunto é ele, mostrar que ele ainda existe, que tem gente que ainda é fanático por ele, que faz juras de amor por ele, e coisa e tal.

E para encontrá-lo só tem um jeito. Adentrando aos portões do Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Mooca. Para chegar ali, o visitante precisa passar por ruas e avenidas com galpões fabris, ou o que restou deles. Passa também por pizzarias, e assim fica sabendo onde está pisando. Lá dentro, descobre que existe mesmo gente que é fanática por ele, que por alguma razão o adotou como único time e não o segundo do coração, que desistiu de torcer para um time grande, e que estas pessoas não são apenas os mais velhos e idosos que viram as chaminés darem lugar aos espigões de apartamento no velho bairro paulistano. Tem gente nova também. Moleques travessos.

Ele às vezes é visto com simpatia, às vezes com admiração, muitas vezes com deboche, pelo olhar soberbo dos que acham que seu time é maior só porque tem mais torcedores e ganhou este ou aquele campeonato. Mas quem disse que quem torce por ele está interessado em campeonato?

Quem gosta dele quer vê-lo respeitado, honrado. Se tiver que cair, que caia de pé. Se puder vencer, que vença, e se precisar ser com sacrifício, que seja. Se tiver que fazer gol no último segundo, que faça. Lutando com a velha retranca que sempre impôs dentro do seu pequeno campo.

E além de tudo isso, ele é o símbolo de um bairro que está mudando. Deixou de ser um distrito operário da cidade para acolher novos moradores em seus prédios de apartamentos. Um bairro que tem um sotaque tão especial que até querem ver tombado. E por representar tanto ele se fortalece a cada dia, porque enquanto a Mooca muda, os mooquenses se apegam a ele, para preservar suas valorosas tradições.

Ele é o Juventus.

E ele faz aniversário hoje. Oitenta e oito anos.

7 comentários:

Os comentários são moderados.