foto: Carol Serodio / Revista do Tatuapé
Era uma quinta. 19/03/2003. Tinha apenas 11 quando meu pai me levou pela primeira vez à tal Rua Javari. Era novo ainda, ainda escrevia “Juventos” e nem sabia de muita coisa. O que era cannoli, o que viria a ser o pessoal que ficava na “Seção 2” do estádio, e muito menos no que iria acontecer em breve. Nós fomos apresentados assim, eu um suposto São Paulino sendo apresentado ao campo de futebol pela primeira vez. Sim, já tinha ido a fazendinha anos antes com a escola, mas não era nem de perto comparável com aquilo que via ali.
O Juventus jogava o Torneio da Morte, um campeonato á parte do Paulistão para ver quem ia cair. O jogo seria contra o Ituano, e era pro Juventus vencer ou vencer. Claro, acho que como muitos, iria ver meu primeiro jogo nas cobertas. Como disse, iria. Aquele dia choveu pra caramba antes do jogo e o Juventus não entrou em campo. Lembro bem que fiquei no lado direito, acho q na terceira ou quarta arquibancada de baixo para cima. Não tinham cadeiras ainda. Era concreto. Muros e o resto do estádio todo branco e o campo parecia ser muito mais perto do que hoje. Mas algo me chamou a atenção. O sentimento no meu peito ao entrar pelas catracas da Javari (sim, em 2003 tinha catracas) e o cheiro do estádio. Era algo estranho, algo que hoje não sinto mais, claro, de la pra cá foram quase 100 visitas ao estádio, isso só para ver jogos, sem contar outras idas.
Enfim, como dizia, iria ter jogo. Tive que voltar no dia seguinte, um 20/03/2003 (sou biruta pelo numero 23, não sei porque e essa é outra historia, mas tirem os zeros que vocês descobriram), um dia místico. Talvez a frustração do primeiro jogo não visto, apenas uma visita inútil e minha ânsia por esse primeiro jogo no estádio só aumentou o desejo, ou, apenas plantou a semente que se afloraria anos depois. A Javari estava lotada. O Juventus abriu os portões e com isso a Mooca desceu naquele dia e foram todos ao templo. Numa mística Sexta Feira 23. Não lembro claro, quem fez os gols, pois só sabia o nome do nosso goleiro (outra mística minha com goleiros Juventinos, no primeiro jogo que vi, apenas o nome do guarda-redes não saiu de mente), era Willians o nome do numero 1. O Juve ganhou de 2x1, com dois gols de faltas no gol da “Seção 2”. Um dia fodastico. O dia que o moleque conheceu seu melhor amigo. Só que eu nem sabia disso.
Só que essa não é nem de perto a história completa de tudo. Voltaria para aquele campo dia 19/07/2003, dia que conheci a homenagem ao goleiro adversário ao bater tido de meta, algo característico até hoje, 9 anos depois. Dia que vi meu primeiro jogo na Setor 2, que na época devia contar apenas com o Cabelo e mais alguns, e não era nem de longe o que é hoje. Juventus 3x1 (placar místico, puta merda, 3x1 é místico para mim) no XV de Piracicaba na Copa Estado de São Paulo (hoje a Copa Paulista). Esse foi minha ultima visita ao templo, coisa que demoraria a acontecer por um longo inverno.
Ai veio talvez à coisa mais cruel que para um menino de 12 anos poderia acontecer. Eu, um São Paulino, já definido e fanático, mesmo sendo pequeno sou colocado frente á frente com seu primeiro amor, e disposto a trair meu atual time na presença do mesmo. O famoso jogo do Grafite em 2004 em São Caetano do Sul (puta que lá merda, São Caetano, outra mística, devo ser filho do Toro e não sei, sou como ele com essas coisas de místicas). 14/03/2004 (ah, o mês de Março...) valia o rebaixamento do Juve. Mas, se o Juventus ganhasse rebaixava o Corinthians, e como fiquei na torcida do São Paulo (longe de minha gente) torci para o Juventus por dentro, como todos os São Paulino. Será que queria ver o rebaixamento do Corinthians ou realmente aquilo era o meu destino de torcer pelo Juventus. Enfim, eu não sei ao certo. Só que ganhamos (para mim na época São paulino, mas na verdade perdemos) 2x1 para o São Paulo. Juventus rebaixado. Puta merda. Sai do jogo e passei pela “gente” Juventina saindo triste de lá. Não entendi ao certo, só sei que estava magoado por dentro, por algum motivo inexplicável. Aquele dia soube que algo não estava normal no meu mundinho paralelo em que vivia até ali.
E o inverno passa. Levando-me ao dia 03/08/2008. Me animei após ver um jogo Sub-20 (a base Juventina, minha sina) semanas antes. Sim, minha volta seria na verdade 26/07/2008 num Juventus 3x2 Santos. Porem, tinha que voltar para ver um jogo do profissional. E assim se foi. Um domingo de manhã cinza. Copa Paulista. Era um Juventus x Santo André. A sensação daquele dia não foi a mesma de 2003, mas era algo diferente. Daquele dia em diante os Deuses do futebol junto ao Crespi e Clovis me cravaram no peito o desejo de ficar ali naquele lugar. Sem querer comecei a entender qual era na verdade o propósito de minha existência terrestre. Tinha as armas e tive que me virar para aprender a usa-las. Voltando ao jogo. Fui com um amigo, levado por ele ao jogo, sendo que não converso mais com ele hoje em dia e acho que ele também nunca mais voltou lá. Ficamos na coberta. Mas lá não legal. Ao segundo tempo fomos para o gol da Setor 2. Ainda não conhecia muita coisa, mas fiquei a vontade ali. O sentimento começava ali. Perdemos o jogo, 3x1. Normal. Mas a partir desse dia voltaria muito vezes ao nosso templo.
Em 2009 assisti apenas 6 jogos do Juve. Fazia curso sábado de tarde e não consegui matar sempre. Só ia em jogos de domingo e alguns de quarta feira. Ainda tinha dois times no peito, mas via que o lado Juventino pesava. Vai ver a abstinência fez eu esquecer o São Paulo e virar só Juventino. Foi logo após o Campeonato Nacional, que decidi me dedicar ao Juventus apenas. Bem torcedor modinha que só torcia nas boa. E era isso que eu era, um modinha, torci quando foi fácil, mas quando ficou foda eu mudei. E horas, mudei para ser Juventus. E se eu já pensei em voltar ao time do Morumbi e largar o Juve? Logico. Mas não consigo. Foi caminho sem volta. Aqui é meu mundo paralelo, onde tenho experiências que torcedor nenhum de time de mídia já teve.
Dizem que o Juventus é time de várzea. Pois bem, não deixa de ser. Pela proximidade que temos com jogadores, a amizade que se cria com eles, a ligação direta com os dirigentes, onde todos conhecem todos por nome, um time de bairro que tem sua gente com ele. Somos um time de vazea sim, mas o melhor de todos. Até porque vivemos no mundo profissional. Ser Juventino é diferente. É único e para poucos, ate porque assim é perfeito. Não queremos milhões de torcedores, não queremos títulos (mas se vier, agradecemos) e nem arenas modernas. E nem precisamos. Assim está bom. Ser Juventino é raro, até porque tudo que é raro é mais valioso do que tudo que é normal, comum ou igual. O Juventus é diferente de tudo, até porque não é você que escolhe seu time, foi o Juventus que escolheu você. O sentimento não se aflora em alguns, outros consegue dividir com outros amores. Normal. Tempos moderno é assim, infelizmente. Mas a gente continua aqui. Orgulhosos de ser o que somos. Até porque, somos raros e valiosos.
*Ricardo Russini Pucci escreve no blog Juventus Travesso e acompanha quase todos os jogos do Juventus, seja no profissional ou nas categorias de base.
Você pode participar da Seção O Dia Em Que Virei Juventino do nosso blog mandando sua história de como o Moleque Travesso começou a fazer parte de sua vida para o email hamilton@juventus.com.br. Já recebemos várias contribuições e todas elas serão postadas na ordem em que as recebemos. Esta foi a primeira. Escreva quanto e como quiser, mas participe!
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