quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Dia em que virei Juventino - por Marcos Pires


Uma vez meu pai me levou na Javari, acho que lá pros idos de 97, no auge dos meus 11 anos. O jogo não me lembro o que valia, mas lembro que era contra o Ji-Paraná.

Lembro também que teve gol marcado por um tal de Éder. Lembro como ontem a sensação de entrar pela primeira vez na Javari, foi algo muito marcante . Sentei nas cobertas, meio do campo, mesmo lugar que fico hoje. Era cimento, não tinha banco, não tinha pintura... Era só o cinza e as marcas de cagadas de pombos que ficavam empoleirados livremente nas cobertas. Repetimos esse programa por mais algumas poucas vezes, e ganhando ou perdendo, sempre foi um momento muito bacana que eu tinha com meu pai.

Meu pai vira e mexe ia nos jogos, mas por muitos e muitos anos não voltei mais... Não sei porque, mas não fui...

Isso até a Copa Paulista, de 2009. Mais uma vez acompanhei meu pai ao jogo... A sensação de entrar na Javari estava lá novamente, exatamente a mesma sensação de antes.

Dessa vez a Javari estava mais arrumada, cadeiras nas cobertas, sem pombos, tinha alguns dos mesmos senhores de muitos anos atrás e agora uns caras mais novos...

Enquanto isso o Juve passava pela pior fase da história pois tinha acabado de cair para a A3. O jogo foi contra o Pão de Açucar, um 0x0. O jogo em si foi ruim, mas zuar esses jogadores de empresários, jogadores de mentira, não tem preço. Fase ruim, placar desanimador, qualquer idiota deixaria para voltar na Javari quando o time estivesse pop novamente, mas quando eu saí da Javari, voltando pra casa com meu pai eu percebi o quanto aquele momento tinha sido bom. Quantos e quantos anos eu não tinha feito um programa só eu e o meu pai? Uns 10, 12 anos talvez... E no domingo seguinte lá estávamos nós novamente e por aí foi...

Acompanhei todo os jogos de final de semana na Copa Paulista 2009 e na A3 de 2010 e cada jogo alguma coisa ia ficando diferente. Aquele puta sufoco, aquela agonia de não saber se vai classificar ou não, jogos roubados, mas por mais difícil que fosse o jogo, entrar na Javari era uma forma de terapia pra mim.

E o momento que eu mandei tudo às favas e virei juventino foi naquele Juventus x Atlético Araçatuba que ganhamos de 2x1 com um gol meio de bicicleta e conseguimos a classificação pra segunda fase na bacia das almas, na ultima rodada, por 1 ponto... Porra, aquilo foi muito foda, todo o sufoco, toda a incerteza, e conseguir aquela classificação na raça, no suor, daquela forma foi uma emoção que nunca poderia ter sido proporcionada por nenhum outro time e eu tive o privilégio de sentir aquilo com apenas outros poucos malucos, entre eles meu pai. E não poderia ter sido proporcionada por nenhum outro time porque em nenhum outro lugar tem tanta história em jogo,

história não só de um time, mas de um bairro inteiro, em nenhum outro lugar tem essa relação jogador/torcida, em nenhum outro lugar você pode conversar, incentivar e, cobrar um jogador como na Javari...

Lá ninguém é apenas mais um, todos são parte fundamental.

Ninguém é apenas mais uma voz na multidão.

Entendi que não preciso torcer pro time da moda, pro time que passa na TV, pro time em que por pior que seja o jogador ele ganha seus 100 mil por mês graças ao empresário e investidores.

Hoje posso dizer que eu torço pro MEU time, pro time do MEU bairro, pro time que ainda guarda o romantismo do futebol, onde tem jogadores que não são badalados, que precisam se superar pra colocar a comida na mesa. Jogadores que comemoram com a torcida, que pulam no alambrado, que sabem que você está lá. Jogadores que ainda não foram contagiados pelo vírus do futebol moderno de chuteiras coloridas e cabelos moicanos. Torço pro time que eu quero que ande sozinho, sem interferência de empresários, de diretores, de grupos, de acionistas, que me dá orgulho independente de qual campeonato esteja disputando.

Não existem milhões de pessoas como eu, existem apenas eu e algumas centenas, talvez poucos milhares e para nós só o Juve basta!

Você pode participar da Seção O Dia Em Que Virei Juventino do nosso blog mandando sua história de como o Moleque Travesso começou a fazer parte de sua vida para o email hamilton@juventus.com.br. Já recebemos várias contribuições e todas elas serão postadas na ordem em que as recebemos. Escreva quanto e como quiser, mas participe!

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